Rodrigo Oliveira, membro da Comissão de Avaliação Psicológica do CRP
Rodrigo Oliveira, membro da Comissão de Avaliação Psicológica do CRP

O Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Norte (CRP-RN) defende o aumento no número de psicólogos trabalhando no contexto hospitalar. De acordo com a entidade, a ausência de profissionais especializados pode potencializar os danos causados por doenças, tanto nos pacientes quanto em familiares, e na própria equipe de saúde.

O membro da Comissão de Avaliação Psicológica do CRP Rodrigo Oliveira, que atua como psicólogo hospitalar no Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL)  explica que o papel do profissional da Psicologia em hospitais é, inicialmente, prestar assistência aos pacientes e seus familiares no que diz respeito à perda da saúde.

“Este profissional poderá identificar reações emocionais próprias do adoecimento, tais como negação, passividade ou agressão, por exemplo, desenhando estratégias terapêuticas baseadas no suporte emocional, apoio psicológico, intervenções breves e focais, reflexivas e com ênfase do momento”, diz.

Oliveira enfatiza que a psicologia no hospital tem como objetivo dar voz ao sujeito. “O papel da psicologia no contexto hospitalar incide nos aspectos subjetivos e emocionais do adoecimento, e nos possíveis desdobramentos relacionados ao tratamento, recuperação, sequelas, cuidados paliativos e óbito”.

Embora reconheça que a presença de psicólogas e psicólogos na área da saúde venha crescendo ao longo dos anos, Oliveira diz que há um subdimensionamento no Sistema Único de Saúde (SUS) e na iniciativa privada, por motivos distintos. “Podemos problematizar a situação a partir de algumas perspectivas. Por exemplo, a Psicologia não atende e não resolve parte das problemáticas que causam sofrimento psicológico vinculadas às condições de subsistência como fome, desemprego e miséria. Além disso, os conflitos e sofrimentos emocionais que poderiam ser trabalhados não encontram fluxos dentro da rede de saúde, principalmente na atenção básica”, enfatiza.

O psicólogo destaca um terceiro aspecto que diz respeito à baixa adesão dos profissionais da área aos processos políticos e sindicais que atravessam qualquer prática profissional. “A revisão destas questões pode oferecer saída e soluções efetivas e estruturadas para uma inserção mais potente de profissionais de Psicologia no mercado de trabalho e campo de atuação da saúde e hospitalização”, afirma.

Ambiente hospitalar

Rodrigo Oliveira explica que, na área da saúde, psicólogas e psicólogos podem atuar no processo de acolhimento, acompanhamento terapêutico, clínicas cirúrgicas, no acompanhamento psicológico em serviços de IST/HIV/Aids (Doenças Sexualmente Transmissíveis), em serviços de saúde mental e na clínica oncológica.

Podem também atuar em processos de avaliação psicológica dos indivíduos – procedimento comum nos cuidados intensivos como em UTIs (Unidade de Tratamento Intensivo), em clínicas pediátricas e materno-infantil.

Há, ainda, a possibilidade da atuação profissional em processos educativos, culturais, de formação, capacitação, comunicação e orientação. “Nos serviços de transplantes, por exemplo, os processos educativos passam a ser parte do papel do profissional de saúde que ali trabalha, incluindo a psicóloga ou psicólogo”, ressalta.

Legislação

São poucas as legislações que especificam o número de profissionais necessários por hospital, entretanto, portarias como a nº 2413/GM/MS de 23 de março de 1998 estabelece uma cobertura de 3 horas por dia para cada módulo de 40 leitos no caso pacientes crônicos sob cuidados prolongados. “Há portarias do Ministério da Saúde que incluem, obrigatoriamente, a presença de psicóloga(o) na equipe mínima, como acontece nos serviços destinados à realização da Cirurgia Bariátrica e na Atenção aos Ostomizados”.

Outro exemplo é a Portaria n.º 930 de 10/05/12, que recomenda que a equipe de saúde inclua um psicólogo na organização da Atenção Integral e Humanizada ao recém-nascido grave ou potencialmente grave. “Há outras, ainda que recomendam assistência psicológica nos serviços de média e alta complexidade, o que inclui ambulatórios e hospitais. Assim, é necessário o profissional conheça a legislação referente à área em que irá atuar para garantir uma participação baseada nos princípios legais, éticos e políticos de sua profissão”.

Para ele, pensar na promoção e recuperação da saúde no âmbito do SUS requer da psicóloga e do psicólogo, além de competência técnica, um compromisso ético e participação cidadã, com atenção especial às lutas pela mudança das condições sociais da população brasileira, através de participação política, para a garantia dos direitos da população, tendo como horizonte a defesa do SUS.